segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

não existir

Acontecera no seu terceiro dia de trabalho. Não conhecera ninguém ainda. Estava em sua estação de trabalho. Seu computador, sua mesa, seus documentos. Horário de almoço a chegar. Começara a se sentir mal. Os colegas saindo, ele a pedir ajuda e ninguém o notava. Como se não existisse. Sua gravata apertada demais, mas ele não tivera força para soltá-la. Da mesma forma, seus colegas que o viram, ignoraram e, portanto, não soltaram a gravata. Seu corpo pesado. Sua vista escurecera. Espasmos percorreram seu corpo como ondas de mesma freqüência. Agora, seu corpo encontrara o chão, depois de bater a cabeça, que sangrava, contra a mesa. Sua tremedeira não passaria tão cedo. O colega ao lado, que se demorara a sair para o almoço, passara por cima de seu corpo, somente desviando como quem desvia de uma pedra. Antes do retorno de qualquer colega, já estaria morto. Quando chegaram, a todos a mesma reação: pular o corpo como se fosse um simples obstáculo. Quando o chefe percebesse a existência do corpo ao chão, daria sua ordem de que o retirassem dalí, chamando a ambulância. E como todos os bons empregados, estes ignorariam a ordem do patrão. Como se aquele, o morto, não existisse.